domingo, 23 de outubro de 2016

The Green City Band

Eu era pesquisador do Rock. Pesquisava grandes bandas  e grandes nomes como Grand Funk, Deep Purple, Led Zeppelin, Emerson, Lake, Palmer, Pink Floyd, Dire Street, The Beatles. Eu tinha dois amigos, que a gente se dava muito bem, o Durvalino Couto Filho, músico, baterista e compositor, e Edvaldo Nascimento, músico, guitarrista, compositor e cantor. A gente se encontrava, trocava ideias, fazia um som. E um dia, o Durvalino Couto Filho sugeriu a criação de uma banda de rock pesado. Nesta época, salvo engano, ele estava de namorico com a Naire Villar, filha do maestro Reginaldo Carvalho, e sugeriu que ela fosse a cantora da banda, mas não vingou, não sei a razão. No começo não foi fácil. Eu já era guitarrista da pesada, o Durvalino Couto Filho era baterista dos bons. Mas, o Edvaldo Nascimento tocava violão e precisávamos de um baixista. Depois, para tocar rock não é qualquer um que toca, precisa ter um sentimento, uma pegada boa. O Edvaldo Nascimento passou a ensaiar e chegou a um momento em que ele já tocava contra baixo como um gigante. Achamos que era a hora de formar a banda. Precisávamos do nome. O Durvalino Couto Filho sugeriu Banda da Cidade Verde. Eu era estudante de inglês – hoje sou professor, então, eu dei o lance de americanizar o negócio, ficando The Green City Band. Apesar de ser uma época da ditadura brava, veja bem, nós passamos a ensaiar nos fundos do Quartel do Exército, do 25 BC. Tudo isto porque eu tocava no Bec Boys e tinha um filho do comandante, o Stanley Júnior, que era cabeludozão e gostava de rock. Ele tocava pouco violão, mas era muito apreciador de música, principalmente rock. Então, ele pediu ao coronel Stanley que fizéssemos os nossos ensaios lá. O Bec Boys ensaiava pela manhã, e passamos a ensaiar à tarde. Inicialmente, o Bec-Boys era formado apenas por militares e se apresentava única e exclusivamente nas solenidades deles lá. Contudo, com a vinda do coronel Stanley, um militar mais aberto e que gostava muito de arte e cultura, novos músicos foram incorporados ao Bec-Boys, que passou, inclusive, a atender pedidos para apresentações em clubes e outros palcos da cidade. O cabo Lima (falecido em sua terra natal, Fortaleza) era o responsável e o cantor do Bec-Boys, que tinha, ainda, como músicos o Almir Marques (contra baixo), eu (voz e guitarra), Zezinho Ferreira (teclados), Pantico (sax), Bossa (piston), e o Crisnamurte (bateria), que se casou com a Rosinha Freire, também cantora do Bec Boys, inclusive ela cantou a música do José Luís Santos e foi a melhor intérprete do IV Encontro Nacional do Compositor de Samba, realizado na Vila Isabel, no Rio de Janeiro, em 1975. Quando o José Luís Santos começou a cantar, a Lena Rios, a nossa Barradinha, que estava perto notou que faltava alguma coisa, então empurrou a Rosinha Freire para o palco e esta, sem perder o rebolado, o fez mudar o tom pra que ela pudesse cantar. Foi um delírio! O público aplaudiu de pé a cantora que vaiara antes, na eliminatória. A Rosinha Freire foi considerada a melhor intérprete do IV Encontro, que teve o seguinte resultado: 1° lugar geral do Festival: Siriê (Edil Pacheco); 1° lugar dos Estados visitantes: Melhor pra quem sorrir no final (José Luís Santos, do Piauí); 1° lugar em popularidade: Velha Baiana - Mariana (Rodolfo, Irani e Brasão, interpretada por mim, num banho de popularidade total); Melhor intérprete do Festival: Rosinha Freire (com Melhor pra quem sorrir no final, do José Luís Santos). Fizeram parte da Comissão Julgadora do IV Encontro Nacional do Compositor de Samba nomes como Cartola e Nelson Cavaquinho, Ricardo Cravo Albim, Leci Brandão e outros. O Carlos Martins, na sua coluna do jornal carioca O Dia, destacou: “Numa noite tipicamente carioca só deu o Piauí”. Rosinha Freire, agora reconhecida, foi convidada para gravar um LP pela Polygram/Philips. Ela foi convidada, também, para fazer parte do Corpo de Baile do Sargentelli, como uma de suas mulatas, tal era a beleza que a morena piauiense ostentava. Eu me lembro, nitidamente, da Rosinha cantando Melhor pra quem sorrir no final:

Quem destruiu nosso amor foi você
Quem me deixou no chão foi você
Quem feriu meu coração nem digo
Pois você sabe mais do que eu
Essa vida só dá colher de chá
A quem se ocupa de fazer o mal
Você pode até gargalhar, meu amor,
Mas rir melhor quem sorrir no final.


O Colombo também fez parte do Bec Boys. Bem, o Stanley Júnior passou, também, a ser uma espécie de empresário da gente. Passamos a fazer muitos shows em clubes, em residências, e no Auditório Herbert Parentes Fortes, que era o lugar da época, porque o Theatro 4 de Setembro não tinha condições. Depois foi que o governador Alberto Silva (1971 a 1975) fez uma grande reforma nele e ele passou a ser, novamente, a nossa principal casa de espetáculos. Fazíamos shows nas escolas, no auditório da Escola Técnica Federal (hoje INFPI). A gente ganhava bem. Recebíamos cachês muito bons. Às vezes, era por bilheteria, mas dava bem também. O coronel Stanley foi embora, porque eles só passam dois anos em cada lugar, mas o comandante que entrou depois deixou que continuássemos a ensaiar lá. Ele também gostava de rock. Acho que se chamava Carlos, um cara super legal. A banda durou, mais ou menos, três anos, de 1974 a 1976.  

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