domingo, 19 de fevereiro de 2017

Galeno: do Morro da Mariana para o mundo

Galeno, de nome completo Francisco de Fátima de Carvalho, não é só um dos três ilustres moradores da famosa Rua Conde D'Eu, em Parnaíba, a Metrópole do Norte, no dizer de dom Pedro I... Galeno é hoje um dos artistas do Piauí mais expostos e vendidos no mundo. É disputadíssimo pelas grandes galerias de arte do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em Brasília, inúmeros trabalhos seus se encontram no Palácio do Itamaraty. Pintou os murais da igrejinha de Nossa Senhora de Fátima, a primeira obra inaugurada na nova capital do país, com traço do Oscar Niemeyer, o nosso maior arquiteto. É que, burramente, destruíram os murais de Volpi, e, por entenderem, depois, que a sua obra em muito se parece com a de Volpi, o escolheram para dar à igrejinha ares de como era antigamente. Mas ele não fez trabalho em lembrança ao grande Volpi, e sim com assinatura própria, pois, segundo ele, apenas a geometria os aproxima, no mais faz um trabalho diferente, próprio. Entretanto, os críticos dizem que Galeno é da linhagem de Volpi e Rubem Valentim, que têm uma ligação com a periferia, com o povo. Volpi lidando com as festas. Rubem Valentim com o candomblé. Dizem que Galeno lembra, também, Francisco Brennand e Gilvan Samico. Em Francisco Brennand, da pintura e, principalmente, da cerâmica, o que ressalta é sua "transparência". Galeno não cobre o suporte de tinta, deixando sempre a madeira aparecer. Que o tempo faça a sua parte. Enriqueça a sua arte. Galeno desenha os suportes, mas é o seu pai, o senhor Arthur Pereira de Carvalho, grande carpinteiro, quem os executa. Mas, ele, também, utiliza os trabalhos de dona Adelaide, da Avenida João XXIII, que lida com flandre, do Albertino, que faz as canoas, do Hélio Carlos, da Pedra do Sal, que faz barquinos de madeira, do Wadson Bastos, ourives, natural de Pirenópolis, do Goiás, morador hoje da Rua Riachuelo, que faz tudo de prata para os seus objetos. Galeno vem de um DNA de grandes artesãos e artistas. Seu bisavô fazia canoas e era chamado de "Mestre Capina". Seu avô também trabalhava com madeira. Sua mãe, Maria Conceição Galeno, era uma grande rendeira. Galeno nasceu em 13 de maio, no Morro da Mariana. Seus pais são oriundos dos Currais Novos, Bezerro Morto. É autodidata. Fez só os primeiros estudos. Contudo, é um leitor pesquisador nato. Um leitor voraz. Ele diz que "Tudo o que os formados estudaram em livros, eu também estudei, eu também aprendi. Eu li os mesmos livros que eles". Os trabalhos de Galeno são montados usando canoas, anzóis, barquinhos, papagaios (pipas), casinhas de brinquedos, bandeirinhas, folhagem, florinhas silvestres, trenzinhos, carretéis-de-linha-de-verdade (daqueles que não se fabricam mais), carrinhos de lata, lamparinas de flandres, bilros-de-fazer-renda, baladeiras-de-matar-passarinho ... tudo das lembranças de velhas brincadeiras de criança. Quem quiser conhecer os seus trabalhos, é marcar uma visita na casarão atelier da famosa Rua Conde D'Eu. A próprio prédio já é uma obra de arte. Um velho armazém tombado pelo patrimônio, que ele comprou dos herdeiros de Fenelon Coelho Lima, avô do não menos famoso Benjamim Santos, um dos maiores dramaturgos do mundo. Filho do também não menos famoso Benedito dos Santos Lima, o Bembém, o homem do Almanaque da Parnaíba, que foi um dos grandes comerciantes daquela cidade. Porém estas informações já dariam outra história. Fiquemos, por enquanto, com a do nosso Galeno. Paz e bem. (Foto de João Batista Mendes Teles, estatístico, do Amostragem Teresina, mecenas das Letras e das Artes piauienses, no Restaurante Aventur, do meu amigo e mecenas Joca Vidal).

Nenhum comentário: